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Crônica

Carta Aberta

São Paulo, 4 de outubro de 2016.

 

Carta aberta a Gilmar Tadeu Ribeiros Alves,

 

     Somos um grupo de estudantes do Colégio Marista Arquidiocesano e recentemente fizemos um estudo de meio no bairro paulista Bela Vista, mais conhecido como Bixiga.

     Nesse estudo, acabamos por relatar inúmeros pontos negativos, que acabaram deteriorando sua imagem e seriam facilmente resolvidos pela Prefeitura, então resolvemos escrever esta carta para relatar o estado de precariedade em que o Bela Vista se encontra.

     Primeiramente, gostaríamos de citar o problema mais perceptível presente em todo o bairro: o lixo das ruas. Não só na parte alta quanto na parte baixa, às lixeiras disponíveis estão lotadas (pelo menos a maioria delas), sem fiscalização nenhuma ou recolhimento do lixo, fazendo com que os moradores depositem seus restos no chão, o que entope as redes de esgoto e causa pequenos alagamentos nessa área, exalando um cheiro insuportável para quem passa e se tornando um risco de doenças para os que moram nas ruas. Esses despejos inapropriados se tornaram um hábito local, o que acabou sujando as avenidas mesmo com lixeiras vazias, indicando que a Prefeitura não exerce o seu trabalho decentemente nesse quesito.

     Sem falar também da quantidade de calçadas desgastadas e irregulares que dificultam a passagem dos pedestres e a falta de recursos para o caminho dos deficientes físicos.

     Em seguida, temos o problema da quantidade de construções abandonadas que poderiam ser restauradas e transformadas em locais de turismo no bairro. Em uma entrevista com um morador local, fomos informados de que “Antigamente, o Bixiga era cheio de centros culturais maravilhosos, porém estão sendo utilizados atualmente como moradia aos mendigos. Um exemplo em que ocorreu isso foi no Teatro Záccaro, um lugar onde vários famosos nasceram.”.

     E por ultimo, mas não menos importante, a segurança do local é quase inexistente e podemos provar isso com outro relato de um dono de uma padaria: “Aqui não tem segurança, eu sou assaltado três, quatro vezes por ano, eu tentei reclamar lá para o pessoal da Prefeitura da Sé, mas ninguém me ouviu.”.

     Não obstante a tudo isso, também é certo que o bairro tem suas belezas e histórias na cidade de São Paulo, como, além das famosas Cantinas Italianas, as casas Noturnas, a Escola de Samba Vai-Vai, e a tradicional festa da Santa Achiropita que acontece no mês de agosto, o que ainda fazem com que o bairro seja procurado por seu destaque cultural e gastronômico, portanto pedimos por um melhoramento nos aspectos mostrados. Afinal, a cidade é um bem comum e não podemos generalizar nada nela por aspectos negativos em meios positivos.

 

Atenciosamente,

 

Sabrina Kim, Pietra Petrella, Thales Fernandes, Laura Pereira.

Pizza à brasileira.

“O bairro era mais italiano, de repente ele deu uma [mudada], não está mais muito, né?”

Almeida, morador da Bela Vista.

* * *

Descia a escadaria do Bixiga, apressada, mal podia observar as críticas que emanavam das paredes pichadas: era Maria, atrasada para o trabalho.

            –Bom dia, Maria! – Dizia o “Seu Jão”, seu nome, de tão desgastado, virou gíria, o seu sorriso amarelado aguardava o café da manhã.

            –Dia, João! Já tomou café hoje?

            –Não, Maria. – Respondeu cabisbaixo.

            Ela lançou- lhe o pacote de pães de queijo que havia comprado no metrô.

            –Deus te abençoe! – E Maria sorriu, deixando para trás a Praça Dom Orione e, junto, o pobre mendigo.

* * *

Chegando à padaria, às cinco e meia, Maria já estava exausta, vir da zona leste tão cedo era terrivelmente desgastante.

            –Bom dia, Souza! Daqui a pouco podemos abrir né?

            –Bom dia, Aparecida!

            –Já vai me encher a essa hora da manhã, Souza! – Respondeu a retirante tirando as cadeiras de cima da mesa.

            –Eu? Nunca! Já vou ver se a Dona Giuseppina já está com tudo pronto.- Respondeu o gerente, rindo.

            E estava, eles então abriram a padaria.

* * *

            Era meio dia, a padaria estava lotada, como de costume. Num vai e vêm de pratos, com cores, sabores e odores que se misturavam, e talheres, adentra um desconhecido. Examina o local sem que ninguém o note: dois casais de namorados, uma mãe com duas crianças, cinco funcionários, três idosas e quatro amigas conversando.

            O jovem caminhou para próximo das mesas, de um segundo para o outro, sacou a arma e gritou:

            –Todos os pertences em cima da mesa e o caixa vazio, agora!

            Todos se paralisaram por alguns segundos, o ar estava difícil de se respirar, uma das crianças começou a chorar, a mãe desesperada, com as mãos trêmulas, tentava tirar tudo de dentro da bolsa. A criança não parava. Todos começaram a esvaziar suas bolsas, em pânico. Maria não fazia nada. O ladrão recolheu tudo. Maria começou a abaixar-se. O ladrão percebeu. Gritou para que ela levantasse. Chorando ela pegou o telefone. O ladrão gritou novamente. Ela começou a digitar. Ele atirou. Maria morreu.

“A segurança está falha, não tem segurança [...] sempre [tem assalto aqui], pelo menos três, quatro vezes por ano.”

Almeida.*

* * *

             – Se questa panetteria era italiano, niente di tutto questo sarebbe sucesso.

* * *

 

 

 

 

*Essas frases foram retiradas e adaptadas de uma entrevista feita no treeking.

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